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21/11/2018    1321 visualizações

Trabalho conjunto das polícias Civil e Militar resulta na identificação de mulher encontrada sem memória

Uma mulher de 37 anos, com perda repentina de memória, vagando sem documento por Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Assim começou a saga de Cíntia Pimenta Machado, que saiu de casa em Contagem, no dia 22 de outubro, e foi dada como desaparecida pela família.

No dia seguinte (23), com auxílio de moradores daquela cidade, Cíntia foi encaminhada à Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida (DRPD) da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), sem recordar-se do próprio nome. Naquele momento, Cíntia tinha apenas uma lembrança: a imagem dos dois filhos. Após minucioso trabalho de investigação, foi possível identificar a mulher e promover o encontro dela com a família.

A Chefe da DRPD, Delegada Maria Alice Faria, destaca o serviço prestado pela unidade policial, que segue procedimentos padronizados visando “atender a todos de forma humanizada, respeitando o sofrimento de cada um, buscando sempre realizar um serviço ágil a fim de minimizar a dor dessas pessoas”.

Segundo a assistente social da DRPD, Marluci Zucherato, foram quase três horas de entrevista até conseguirem desvendar a identidade de Cíntia. Os policiais militares, tenente Luiza e cabo Leonardo, que encaminharam a mulher à delegacia, auxiliaram na entrevista.

Conforme relato da tenente Luiza, em nove anos como militar, foi a primeira vez que ela acompanhou uma ocorrência com essas características, descrevendo-a como “muito humana”. Ela ressalta ainda que o caso ganhou tanta repercussão na corporação, que os militares foram homenageados internamente pelo trabalho desempenhado.

Cintia não possui histórico de doença psiquiátrica e afirma nunca ter passado por situação semelhante. Ela conta que, após o ocorrido, consultou um psiquiatra que avaliou tratar-se de um episódio desencadeado por questões emocionais.

Desaparecimento

No dia 22 de outubro, conforme relato, Cíntia teria saído de casa no intuito de ir até a CDL, em Belo Horizonte. Ela conta não se lembrar do que aconteceu em seguida. É como se a memória dela, nesse ponto, tivesse sido apagada. Quando percebeu, Cíntia estava dentro de um ônibus, chegando à rodoviária de Lagoa Santa, sem lembrança alguma, sequer recordava-se do próprio nome.

Ela então desceu do ônibus e passou a vagar pela cidade, na esperança de encontrar algo familiar. Depois de horas caminhando, com fome e cansada, Cíntia avistou um local para lanchar. Durante conversa com a proprietária do ponto comercial e com um cliente, ela contou sobre a perda da memória.

Compadecidos com a história, o rapaz disponibilizou um quarto na casa dos pais para que ela pudesse passar a noite. No dia seguinte, Cíntia foi levada à Unidade de Atendimento Integrado (UAI), no centro de Belo Horizonte, na expectativa de que lá pudessem identificá-la pelas digitais.

Durante o trajeto, lendo um jornal, Cíntia conta que conseguiu se lembrar com muita nitidez dos primeiros nomes e da fisionomia dos filhos, Brenda e Ryan.

Quando chegou à UAI, as atendentes perceberam a desorientação da mulher e acionaram a Polícia Militar. Conforme conta a tenente Luiza, ao verificar a bolsa da mulher foi encontrada a primeira pista: um livro de autoajuda com uma dedicatória feita pela tia de Cíntia. Quando chegou à delegacia, a Delegada Maria Alice pediu que a mulher, sem pensar muito, assinasse o próprio nome em um papel, confirmando tratar-se de Cíntia P. Machado. Ainda assim, não foi o suficiente para identificá-la.

Durante todo o relato, Cíntia lembrava-se de episódios relacionados aos filhos. No entanto, a identificação só foi possível após ela recordar-se do sobrenome da filha. “Quando ela lembrou do sobrenome Dutra, identificamos a filha (Brenda)  e pelo sistema de dados da polícia conseguimos identificar a mãe, Cíntia Pimenta Machado que lá [no sistema] constava como pessoa desaparecida”, conta a assistente social Marluci.

Reencontro

Após constatação da identidade, os parentes de Cíntia foram chamados à delegacia. No local, os familiares foram informados sobre a perda de memória da mulher que, naquele momento, só se recordava dos filhos.

Ao ver o marido, Cíntia relembra que o associou a duas lentilhas, mas não conseguiu identificá-lo imediatamente. Com o tempo, ela recordou que, no início do namoro, as sementes foram plastificadas pelo companheiro, simbolizando a união dos dois.

Emocionada, ela ressalta: “a parte mais difícil foi ver o sofrimento da minha família; ver nos olhos deles a preocupação comigo e eu não conseguir lembrar”. Quase um mês após o ocorrido, Cíntia conta que está bem e se recupera gradualmente.